Silent Leges

| por Ana Clara Pedrosa (edição e revisão: Waldomiro Vitorino)

Ao inaugurar minha participação aqui no SEÇÃO 31 escrevendo artigos (embora este não seja meu primeiro texto sobre Star Trek), acho apropriado que o tema seja justamente sobre a organização clandestina e autônoma que dá nome ao site.

A Seção 31 é uma organização que oficialmente não existe, e que tem como objetivo proteger os interesses da Federação. Em ordem de produção da franquia, a primeira vez que temos contato com ela é em Star Trek: Deep Space Nine, quando o Dr. Bashir é levado da estação sem seu conhecimento, e sua lealdade à Frota é testada. Neste momento da série, nós já conhecíamos agências de inteligência de outras espécies, como a Tal Shiar (Romulana) ou Ordem Obsidiana (Cardassiana). A grande diferença entre essas agências de inteligência e a Seção 31 é o fato de que essas existem com o conhecimento de todos, diferente da Seção 31 que poucos sabem sobre a existência.

Quando o produtor executivo de DS9, Ira Steven Behr, criou a Seção 31, ele pensou em mostrar o outro lado do universo Roddenberryano. Não bastasse o clima mais pesado que já existe na série de Sisko & cia., com a criação dessa organização, Behr só nos mostrou mais ainda que nem tudo são flores, e que mesmo em um futuro utópico existem pessoas capazes de tudo para manter esse paraíso intacto.


Antes de continuar, quero deixar claro que isso não é uma critica negativa, muito pelo contrário. Devo dizer que a Série Original é a que me fez virar fã de Star Trek (é a que mais amo), nem conto com ela quando vou fazer aquele ranking de top séries da franquia. Dito isso, das séries de Star Trek que vieram posteriormente, DS9 é minha favorita absoluta. Por ela eu tenho carinho, amor, admiração, enfim, somente bons sentimentos.

Voltando à questão, apesar dos pesares, das críticas, das ações controversas, pode-se argumentar que a Seção 31 aparece em momentos que sua existência se mostrou necessária. Em Star Trek: Enterprise, num momento em que a Federação ainda não existe, e séculos depois já no meio da guerra com o Dominion em DS9.

A aparição no filme de 2013 não sei se conta muito. Todo o filme e as releituras feitas (envolvendo uma versão da Seção 31 daquele universo alternativo, e principalmente a também releitura de um vilão icônico da franquia) são bem questionáveis. No entanto, a aparição em si da controversa agência, foi um ponto positivo e interessante de Star Trek Into Darkness.

Obviamente, não conhecemos toda a extensão da Seção 31, tampouco sabemos de todos os feitos dela. Mesmo com relação ao que sabemos, sua natureza dúbia sempre foi clara. Por exemplo, é completamente condenável exterminar conscientemente toda uma espécie, mas sem a infecção que eles causaram ao Grande Elo, talvez seria ainda mais difícil acabar a guerra com o Dominion. Muito mais pessoas poderiam ter morrido, e talvez até mesmo resultar no fim da Federação. Esse ato da Seção 31 pode ser visto como uma versão de “os fins justificam os meios”, mas o próprio Maquiavel, autor a quem se atribui esta frase, considera esse tipo de alternativa como o lado animal do homem sendo usado para manter o poder em relação aos outros.

Trazendo um pouco para o mundo real e para a atualidade, há algum tempo foi revelado pela inteligência norte-americana que os russos interferiram nas eleições que tornaram Donald Trump presidente dos Estados Unidos. E daí vem a pergunta: seria correto ou apropriado um país interferir tanto assim em assuntos de um outro país? Questão inclusive que nos leva a perceber que a democracia de uma nação foi violada para suprir interesses alheios. E não interessa quem é a favor ou contra o atual presidente americano, não há como negar que o que houve ali foi um desrespeito ao que entendemos como democracia.

Pensando na Seção 31, como já dito acima, não sabemos de toda a extensão de seus atos desde quando surgiu. Culturas podem ter sido alteradas, ou mesmo a própria Federação pode ter sofrido mudanças radicais por conta dela. Mas sabemos, por exemplo, que eles já inclusive interferiram no Comitê Romulano a fim de que uma senadora Romulana fosse acusada de traição. A Seção 31 é certamente uma questão muito ambígua.

No fim das contas, Ira Steven Behr nos fez um favor ao trazer essa nova questão para Star Trek, pois, gostando ou não, o conceito da Seção 31 resultou em alguns episódios interessantíssimos e enriqueceu muito o lore da franquia.

Além de que, vale a pena ressaltar, é um ótimo nome para um podcast.


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